sábado, 21 de outubro de 2017

Arquitetura




  
Arquitetura - um museu de grandes novidades

 
CCBB BH por Jorge Costa

           A experiência do movimento do corpo do homem no espaço do cotidiano da cidade alimenta a memória e direciona o olhar para determinados objetos que vão promovendo a produção do imaginário social. A criação da paisagem urbana é um projeto político e econômico de grande impacto que irá formar mentalidades e promover emoções reveladoras da realidade.
            O objeto arquitetônico é um dos protagonistas do cenário social, pois ele proporciona o reconhecimento da cultura de uma época e a experimentação contínua de novas percepções e pensamentos. Ele é uma expressão cultural instituída quanto um elemento em permanente reelaboração. 
         A Arquitetura é um laboratório de produção de sentidos e que pode promover o refinamento do olhar e da ação do homem em sua trajetória individual e coletiva. É, em sua acepção plena, uma linguagem onde a arte e a técnica dialogam em busca de uma ética dos sentidos. A ética como uma conquista de um estado de ampliação da experiência e da mentalidade humanas. Um processo de engajamento estético que demarca a produção cultural de um momento histórico na efetivação de um imaginário poético. Na procura das visadas longas de Lúcio Costa.
       O espaço arquitetônico se apresenta como expressão cultural integrante de um movimento dinâmico da vida urbana. O binômio arquitetura e cidade deve afirmar escolhas justificadas pelo sentido do lugar e alcance social. O caráter espetacular da arquitetura pode ferir os princípios humanistas de uma experiência voltada para a essência ontológica. Valeria mais o objeto arquitetônico em si e seu autor do que o sentido para o lugar e o desfrute estético. Temos, assim, a soberania do visual em detrimento do humano. O urbano engolido por uma arquitetura fantasmagórica.
        O Museu de Arte Contemporânea (MAC), projeto de Oscar Niemeyer, em Niterói, sobressai na paisagem por sua presença espetacular, mas com um sentido de adequação ao lugar, símbolo ocular de uma sociedade ainda na luta pelas suas aspirações sociais e éticas, ideário de Niemeyer. Uma arquitetura que aparece na linha litorânea como um gesto para a composição do acervo da geografia humanista.
            A escala e a natureza da arquitetura são variadas. Arquitetura é a vila, o prédio de luxo, o hospital, a casa da favela, o abrigo de idosos, o shopping, a ocupação, a cidade ... Ela é permanente ou efêmera. Ela é projetada por arquiteto ou não como, por exemplo, a Casa da Flor (uma casa-museu) criada por Gabriel Joaquim dos Santos, em São Pedro da Aldeia, e construída a partir de sonhos e de vestígios do homem (objetos encontrados no lixo). 
           Arquitetura é produção (retrato) de uma cultura a qual tem em seu DNA a urgência da aspiração ética. Ela é a possibilidade de ativação de um cosmo no qual o usuário traz para a matéria o infinito da criação (do pensamento). Ela é abrigo, espaço e quem a ocupa detém cultura, singularidades e sonhos. O tempo da arquitetura não para.
         Josep Maria Montaner fala que a atemporalidade da arquitetura é observada pela materialidade, espaço, simbolismo, relação com o contexto e atmosfera que permitem o reconhecimento de seu valor estético, histórico e cultural. O sentido de permanência do valor intrínseco da obra de arquitetura a torna um objeto clássico, um símbolo que demarca os caminhos de construção da identidade social.
          O Museu de Arte Moderna (MAM), projeto de Affonso Eduardo Reidy, no Parque do Flamengo, é um exemplo de um objeto (material) arquitetônico em que o espaço é o protagonista de um lugar onde o cruzamento do interior com o exterior simboliza a integração da cultura com a natureza. Uma paisagem de concreto natural. Um símbolo de uma arquitetura-paisagem.
            A arquitetura se apresenta como um acervo de coleções do passado que precisa ser revisto por um presente marcado por um ativismo que venha das áreas de articulações da cidade. Uma cidade-museu que articula suas arquiteturas e é depositária de coleções vivas a serem objeto de releituras. É quando nós vemos o futuro querer repetir o passado. É quando nós atualizamos a identidade social e vislumbramos um futuro mais diverso, acessível e mais próximo de nossas iniciativas.