CCBB RJ por Jorge Costa |
domingo, 22 de outubro de 2017
sábado, 21 de outubro de 2017
Arquitetura
Arquitetura - um museu de grandes novidades
A experiência do movimento do
corpo do homem no espaço do cotidiano da cidade alimenta a memória e direciona
o olhar para determinados objetos que vão promovendo a produção do imaginário social.
A criação da paisagem urbana é um projeto político e econômico de grande impacto
que irá formar mentalidades e promover emoções reveladoras da realidade.
O objeto arquitetônico é um dos
protagonistas do cenário social, pois ele proporciona o reconhecimento da cultura
de uma época e a experimentação contínua de novas percepções e pensamentos. Ele
é uma expressão cultural instituída quanto um elemento em permanente reelaboração.
A Arquitetura é um laboratório de
produção de sentidos e que pode promover o refinamento do olhar e da ação do
homem em sua trajetória individual e coletiva. É, em sua acepção plena, uma
linguagem onde a arte e a técnica dialogam em busca de uma ética dos sentidos. A
ética como uma conquista de um estado de ampliação da experiência e da mentalidade
humanas. Um processo de engajamento estético que demarca a produção cultural de
um momento histórico na efetivação de um imaginário poético. Na procura das
visadas longas de Lúcio Costa.
O espaço arquitetônico se apresenta como
expressão cultural integrante de um movimento dinâmico da vida urbana. O
binômio arquitetura e cidade deve afirmar escolhas justificadas pelo sentido do
lugar e alcance social. O caráter espetacular da arquitetura pode ferir os princípios
humanistas de uma experiência voltada para a essência ontológica. Valeria mais
o objeto arquitetônico em si e seu autor do que o sentido para o lugar e o
desfrute estético. Temos, assim, a soberania do visual em detrimento do humano.
O urbano engolido por uma arquitetura fantasmagórica.
O Museu de Arte Contemporânea (MAC),
projeto de Oscar Niemeyer, em Niterói, sobressai na paisagem por sua presença espetacular,
mas com um sentido de adequação ao lugar, símbolo ocular de uma sociedade ainda
na luta pelas suas aspirações sociais e éticas, ideário de Niemeyer. Uma
arquitetura que aparece na linha litorânea como um gesto para a composição do
acervo da geografia humanista.
A escala e a natureza da arquitetura
são variadas. Arquitetura é a vila, o prédio de luxo, o hospital, a casa da
favela, o abrigo de idosos, o shopping, a ocupação, a cidade ... Ela é
permanente ou efêmera. Ela é projetada por arquiteto ou não como, por exemplo,
a Casa da Flor (uma casa-museu) criada por Gabriel Joaquim dos Santos, em São
Pedro da Aldeia, e construída a partir de sonhos e de vestígios do homem
(objetos encontrados no lixo).
Arquitetura é produção (retrato) de uma
cultura a qual tem em seu DNA a urgência da aspiração ética. Ela é a possibilidade
de ativação de um cosmo no qual o usuário traz para a matéria o infinito da
criação (do pensamento). Ela é abrigo, espaço e quem a ocupa detém cultura,
singularidades e sonhos. O tempo da arquitetura não para.
Josep Maria Montaner fala que a
atemporalidade da arquitetura é observada pela materialidade, espaço,
simbolismo, relação com o contexto e atmosfera que permitem o reconhecimento de
seu valor estético, histórico e cultural. O sentido de permanência do valor
intrínseco da obra de arquitetura a torna um objeto clássico, um símbolo que
demarca os caminhos de construção da identidade social.
O Museu de Arte Moderna (MAM),
projeto de Affonso Eduardo Reidy, no Parque do Flamengo, é um exemplo de um
objeto (material) arquitetônico em que o espaço é o protagonista de um lugar onde
o cruzamento do interior com o exterior simboliza a integração da cultura com a
natureza. Uma paisagem de concreto natural. Um símbolo de uma
arquitetura-paisagem.
A arquitetura se apresenta como um acervo
de coleções do passado que precisa ser revisto por um presente marcado por um
ativismo que venha das áreas de articulações da cidade. Uma cidade-museu que
articula suas arquiteturas e é depositária de coleções vivas a serem objeto de
releituras. É quando nós vemos o futuro querer repetir o passado. É quando nós
atualizamos a identidade social e vislumbramos um futuro mais diverso,
acessível e mais próximo de nossas iniciativas.
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